4.ª Parte: A Caminho do Centenário
5 min readPor Mário Proença
* Artigo publicado originalmente no jornal “O Olhanense” de 15 de fevereiro de 2024
AS ORIGENS (IV)
Com o alagamento do Largo da Feira pelas águas do mar, diz-nos Armando Amâncio, era o grupo forçado paragens por algum tempo, o que fazia parar os treinos e consequentemente a dispersão dos rapazes para continuarem no grupo e, quando tempos depois o Largo da Feira se encontrava em condições, lá voltava o entusiasta fundador a reorganizar o grupo, sempre com jogadores diferentes embora dos primeiros restassem alguns.
Como o Clube não tinha equipamentos, para que se desse alguma personalidade, como também para ir dando a conhecer a existência do Sporting Clube Olhanense nas localidades onde se deslocava, o fundador adquiriu numa casa do Porto, pela importância de 11$750, um equipamento que ofereceu ao Clube o qual não sabemos se já era constituído por camisolas às riscas verticais vermelhas e pretas.
Entretanto, novos encontros se realizaram com o Sporting Clube Farense e com Associação Académica de Faro, que o Olhanense perdeu. Ainda foram disputados alguns jogos com as guarnições das canhoeiras da fiscalização costeira, que foram ganhos. A título de curiosidade, referimos que alguns dos jogos foram disputados num largo do súbdito italiano Goso Amâncio, onde depois foi edificada a fábrica de conservas Lázaro & Cª, Lda. Também na Cerca do Júdice, onde seria erguida a fábrica de conservas Aliança Fabril, Lda., foram jogados alguns encontros, isto porque o Largo da Feira se encontrava em más condições.
Referimos que nas deslocações a Faro, a equipa ia “trem” ou de comboio e, no regresso, vinham a pé, pela linha de comboio, colhendo aqui e ali alguns frutos que serviam para retemperar as forças perdidas com o esforço despendido no desafio que haviam disputado, tal era a falta de meios financeiros que o Clube tinha.
Refira-se ainda, por ser de inteira justiça, como deixamos antever, que Armando Amâncio, seu irmão Joaquim e ainda Francisco Brito, Domingos Alves, Miguel Alberto, João Sarah, Martins Coimbra, Francisco da Rosa, entre outros, foram os responsáveis pelo desenvolvimento do futebol na então Vila da Restauração.
Porque estamos a tratar das origens do futebol em Olhão, é bom lembrar que desde sempre foi tradição a criação de clubes populares e, nesse tempo distante há que recordar o “Risonho” o “Olhão Futebol Clube” e o “União”.
Tudo isto é bem elucidativo de que o Sporting Clube Olhanense foi o pilar onde assentam os primórdios do futebol em Olhão, pese embora não o tenha sido no Algarve, com o Sporting Clube Farense a ser o mais antigo em matéria de grupo organizado, pois surgiu em 1 de Abril de 1910. Também, em 20 de Setembro de 1912, aparece o Esperança de Lagos, em 14 de Agosto de 1913 é criado o Portimonense Sporting Clube, em 15 de Abril de 1916 nasce o Lusitano Futebol Clube e em 4 de Abril de 1916 foi criado o Silves Futebol Clube.
Por esse tempo, o Ginásio Clube Olhanense, fundado em 31 de Janeiro de 1892, o mais antigo clube do Algarve, em actividade, que havia nascido, sobretudo para a prática de ginástica, cria uma secção de futebol.
Entretanto, entre 1913/14, foi criada em Tavira a Liga de Educação Física, entidade que fez disputar entre os seus filiados, Sporting Clube Olhanense, Tavira Ginásio Clube e Três Estrelas de Vila Real de Santo António, um torneiro de futebol que foi designado de “Campeonato do Algarve”. O regulamento da prova marcava todos os jogos em Tavira e estava em disputa uma artística caravela denominada “Nau Catrineta” a qual seria entregue ao clube vencedor com três vitórias consecutivas. O Campeonato teve início em 1915 com o Olhanense a vencer o Três Estrelas e o Ginásio Clube de Tavira. O mesmo aconteceu no ano seguinte, tendo por esse motivo a Liga de Educação Física mandado gravar no trofeu essas duas vitórias. O troféu esteve em exposição em Olhão, na Sapataria Ideal, propriedade de Carlos Eduardo Branco.
No ano seguinte o Sporting Clube Olhanense ganhou pela terceira vez consecutiva o campeonato, por falta de comparência dos adversários. O regulamento dava a vitória à equipa que se apresentasse em campo no dia e hora marcados pelo que tendo o Olhanense cumprido essa disposição, teria direito à posse definitiva do trofeu. A Liga acabou e o trofeu foi entregue à Câmara Municipal de Tavira. Sabemos, entretanto, que o Trofeu “Nau Catrineta” se encontra em poder do Ginásio Clube de Tavira, que depois de um trabalho de restauro o recuperou, uma vez que estava em muito mau estado.
Por essa altura, encontravam-se a estudar em diversos estabelecimentos de ensino em Lisboa, alguns rapazes, naturais de Olhão, que praticavam a modalidade e que nas férias regressavam à terra natal e que pelo seu valor, eram incluídos na equipa. Eram eles: Manuel Sérgio Pereira, estudante de direito em Coimbra que integrava a equipa da Associação Académica, onde era considerado um defesa de alto valor; Joaquim Rosa, estudante no Liceu Passos Manuel, Sertório Sena a estudar no Liceu Pedro Nunes, José Bita, tenente do exército; Manuel Cajuda e José Nunes, elementos de bom valor. Também, um grande jogador que por esse tempo passou pelo Olhanense e que devido à sua habilidade, inteligência e coragem, o Clube lhe ficou a dever algumas das suas vitórias, foi Paolo Castello, súbdito italiano radicado em Olhão e que ofereceu o equipamento que a equipa estreou nesse torneio.
Terminado esta competição, a retirada desses elementos radicados em Lisboa, enfraqueceu o grupo, pois os que os substituíram eram manifestamente de menor valor.
Com o alagamento do Largo da Feira e com o desejo de que os treinos não deixassem de se efectuar, alguns dos elementos que integravam o grupo, de entre eles Armando Amâncio, João Lucas, Francisco Gonçalves (Chico Preto), José Rasco, Delfim Revez e outros, lembraram-se de no referido Largo, no lado do mar, abrir uma vala e para tanto solicitaram ao Grupo de Escoteiros que emprestassem as suas pás a picaretas, que as cederam.
(continua)
OUTROS ARTIGOS:
> 1.ª PARTE: AS ORIGENS (I)
> 2.ª PARTE: AS ORIGENS (II)
> 3.ª PARTE: AS ORIGENS (III)