3.ª Parte: A Caminho do Centenário
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Por Mário Proença
* Artigo publicado originalmente no jornal “O Olhanense” de 15 de fevereiro de 2024
AS ORIGENS (III)
É neste contexto que um grupo de jovens liderados por Armando Amâncio percebe a necessidade de dar ao grupo uma certa notabilidade, criando para isso uma Direcção, o nome de dar ao grupo, sua respectiva equipa, nomeação do capitão, quotização que seria paga mensalmente por todos os jogadores, para as despesas com bolas e outras de pequeno expediente. Como não tinham sede, foi Manuel Trigoso, um dos elementos, que conseguiu que as senhoras D. Vieiras, moradoras na Rua de S. Bartolomeu, hoje Almirante Reis, lhes cedesse uma dependência de uma casa, que se situava na açoteia, para que se reunissem a fim de tratarem do assunto em questão.
Assim, no dia 17 de Abril de 1912, teve lugar a desejada reunião da qual foi lavrada a respectiva acta de que abaixo damos conta;
“Aos 17 dias do mês de Abril de 1912, numa dependência duma casa sita na Rua de S. Bartolomeu, desta vila de Olhão, residência das Exmas. Senhoras D. Vieiras, primas do nosso companheiro Manuel Trigoso, que a seu pedido gentilmente nos foi cedida, reuniram os jogadores abaixo indicados: António Borges Silva, Armando José Amâncio, Virgílio Valentim, Alfredo Rosa, Artur de Matos, Leonel B. Alberto, Manuel Trigoso, Raúl de Almeida, José dos Reis Silva, Joaquim António Pacheco e Francisco Pereira, para votação e aprovação (?) dos seguinte assuntos:
. Nome a dar ao grupo de futebol de que faziam parte;
. Equipa a adoptar por esse mesmo grupo;
. Cotização a pagar pelo mesmo grupo;
. Direcção Administrativa do mesmo.
Por proposta do jogador Armando José Amâncio, foi aprovado por unanimidade, que o nome a dar ao grupo seria:
SPORTING CLUBE OLHANENSE
E que a equipa adoptaria:
CAMISOLA PRETA E VERMELHA ÀS RISCAS VERTICAIS
COM GOLA, ABERTA À FENTE E FECHADO COM ATACADOR
E CALÇÃO BRANCO:
E que o tesoureiro do grupo seria o jogador:
ANTÓNIO BORGES SILVA
Por proposta do jogador MANUEL TRIGOSO foi aprovado também por unanimidade que o capitão do grupo seria o jogador:
ARMANDO JOSÉ AMÂNCIO
E que o secretário do referido grupo seria o mesmo jogador:
ARMANDO JOSÉ AMÂNCIO
E, finalmente, por proposta do jogador ANTÓNIO BORGES SILVA foi também, po unanimidade, aprovado que a cotização a pagar pelo referido grupo seria de:
50 RÉIS SEMANAIS
E não havendo mais nada a tratar foi a presente reunião encerrada da mesma sido lavrada a respectiva acta que depois de lida em voz alta por mim que servindo de secretário a subscrevi e assino dando fé de que tudo se passou como na mesma está consignado.”
Estava assim fundado o que viria a ser o mais carismático clube de futebol a sul do Sado e, mais importante que isso, viria a ser Campeão de Portugal, volvidos alguns anos.
Entretanto, Portugal vivia um tempo conturbado com a transição da Monarquia para a República. A greve dos marítimos que começara no ano anterior e que deu origem a que a Vila tivesse sido ocupada pelas do Exército, deixava marcas na população. Uma Associação de Classe Operária das fábricas de conserva, transformara-se em Sindicato dos Soldadores. A pedido da Câmara Municipal é criado um destacamento da Guarda Nacional Republicana. Olhão tinha uma população de 11 mil habitantes. Assistia-se à inauguração do Cinema Teatro, na Avenida da República em 1912.
Com tanta evolução, não era de admirar o aparecimento do Sporting Clube Olhanense, que se dedicava à prática do Futebol. Naturalmente que o Clube nasceu pobre e, esse facto, seria um legado que ao longo dos anos se havia de repetir, por isso, nos primórdios, os fundos para comprar os equipamentos conforme haviam ficado estipulados, camisola preta e vermelho às riscas verticais e calção branco, eram exíguos pelo que os primeiros equipamentos, oferecidos por Armando Amâncio, custaram 11,750 mil reis e eram calção a camisola branca.
A modéstia da sua existência ficaria ainda mais marcada com a sua primeira sede, situada numa mercearia na Praça da Restauração, de Marcelino Jorge, pai de uma figura que viria a ser muito conhecida em Olhão, o “Pai Jorge”. Daí passaram para uma espécie de sede, em casa de um dos fundadores, Armando Amâncio, na Rua João Lúcio. A mobília era composta por algumas caixas de madeira encostadas à parede. Dessa sede, partiam pelas ruas da Vila, já equipados para jogar, levando atrás de si uma rebanhada de moços e gente mais crescida a dar vivas ao Clube.
Alguns jogadores, nos primeiros tempos, quando ainda não jogavam na Cerca Maria Ventura, levavam às costas as balizas que ficavam guardadas debaixo da ponte que atravessava a Rua 18 Junho, em frente ao Largo da Liberdade. Iam a caminho do Largo da Feira ou das Prainhas. Antes de existirem as balizas, que eram de madeira, essas eram marcadas com pedras ou à falta delas, com qualquer peça de vestuário.
O primeiro encontro de futebol que o jovem Clube disputou foi em Faro contra o Sporting Clube Farense, cujo resultado sabemos ter sido uma derrota para os jovens de Olhão, que justificaram o desaire dizendo que os farenses tinham uma equipa com melhores valores individuais e uma técnica superior. Não nos podemos esquecer que o Farense já tinha equipa de futebol havia um ano. Também contra a Associação Académica de Faro, equipa que rivalizava com o Farense, os encontros se saldaram por derrotas uma vez que os estudantes já praticavam futebol há bastante mais tempo. Recordamos que estes encontros foram disputados com o equipamento constituído por camisola e calção branco, pois ainda não tinham reunido fundos para a compra dos equipamentos adequados.
(continua)
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