5.ª Parte: A Caminho do Centenário
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Por Mário Proença
* Artigo publicado originalmente no jornal “O Olhanense” de 1 de abril de 2024
AS ORIGENS (V)
Começados os trabalhos, às tardes e noites de luar, foram eles de pouca dura, pois os cabos das ferramentas faziam calos nas mãos, pelo que os voluntários desistiram e a vala nunca foi aberta.
Entretanto haviam adquirido, por subscrição pública, umas balizas que em dias de jogos eram colocadas no campo e retiradas no final dos jogos, sendo umas vezes deixadas debaixo da ponte, num cano, que no local existia e outras vezes eram guardadas na sede do Ginásio Clube Olhanense que fazia esse favor.
No ano de 1914 funda-se em Faro a União Foot-ball de Faro, que terá sido o primeiro organismo colectivo de clubes, tendo reunido a Associação Académica do Liceu de Faro, a Escola Normal de Faro, o Sporting Club Farense e o Boavista Foot-ball Club. Esta União dissolve-se em Janeiro de 1916 e no ano seguinte funda-se a Associação de Foot-ball do Algarve, que, devido a desinteligências surgidas, viria a extinguir-se no início de 1918.
É exactamente entre os anos de 1918 e 1919, que se instala uma crise no Sporting Clube Olhanense, pelo que Armando Amâncio e Marcelino Jorge, tentam reorganizar o Clube. Como vimos, um dos grandes obstáculos com que o Olhanense se deparava, era o campo de jogos disponível na altura, ou seja, o Largo da Feira, que, como vimos, muitas vezes estava alagado, o que era, em boa verdade, um grande obstáculo. Desta vez, os reorganizadores do Clube, os referidos Armando Amâncio e Marcelino Jorge podiam contar com Cândido do Ó Ventura, interessado na questão e que tinha a facilidade de conseguir um campo com condições para a prática do futebol, que seria na Cerca da senhora D. Maia Ventura.
Situado na hoje denominada Avenida General Humberto Delgado, onde depois viria a ser edificado o prédio do Grémio dos Industriais de Conservas de Peixe do Sotavento do Algarve e que na altura era um baldio que reunia melhores condições que o referido Largo da Feira, era um espaço amplo onde o risco de alagamento não existia.
Diz-nos Raminhos Bispo no seu magnifico livro «Sporting Clube Olhanense – 90 Anos de História», que então Olhão progredia. A Câmara Municipal, presidida pelo capitão João Carlos Mendonça, pela sua incomparável acção, conseguiu transformar a Vila malcheirosa, numa asseada terra, com adequadas canalizações e esgotos, não faltando também na Avenida da República um passeio ao centro para os seus habitantes, como também a substituição dos velhos candeeiros a petróleo para potentes lâmpadas eléctricas.
O Clube, esse, levava o mesmo ritmo de desenvolvimento e os seus atletas já treinavam na Cerca da senhora D. Maria Ventura. Ali podiam ver-se evoluir Bansabat, Armando Amâncio, Falcate, Rancheiro, José Nugas, Francisco Alves, Manuel Pereira, este natural de Portimão, que se classificava como um autêntico fura redes, tal a violência do seu pontapé. Salvador do Carmo, natural de Lisboa, que chegou a treinar o grupo e que aqui esteve radicado durante algum tempo, no desempenho da sua profissão de construtor civil, sendo mais tarde, já em Lisboa, jornalista, seleccionador e árbitro de renome nacional.
A rivalidade foi desde sempre o sal que coloca, quantas vezes o sabor nos desafios de futebol e, no caso do Olhanense, a rivalidade entre o Ginásio Clube Olhanense e o Sporting Farense, eram tema de grandes discissões. Os jogos entre estes clubes eram, no final das contendas, motivo de pancadaria fosse o desfecho qual fosse.
O futebol dava os primeiros passos, o Boxe como modalidade também, já que no nosso País surgiu em 1909, com um combate entre o inglês Drumond e o norte-americano Sam MacVea, que suscitou o interesse e a curiosidade entre os adeptos da modalidade, por isso, no dia 3 de Novembro de 1920 realiza-se no Cinema Teatro perante casa cheia, um combate entre o Campeão Algarvio Manuel Guita e o profissional Franklim Paulo. O combate dura dois rounds com a vitória do Algarvio por KO técnico. A maioria do publico que nunca tinha assistido a um combate de Boxe, no final ergueu Manuel Guita em triunfo.
Por essa altura, o Ginásio Clube Olhanense, que não tinha modalidades desportivas, para além do futebol que havia reactivado, procura que os dois clubes se fundam.
As respectivas direcções, agarrando o entusiasmo e a vontade que os sócios davam mostram em unir os dois grémios, convocam os associados para as discussões preliminares com vista à fusão, que a dada altura parecia ser viável.
No dia 17 de Dezembro de 1921, na sede do Ginásio Clube Olhanense realizou-se a reunião com vista a resolver tal assunto. Em representação do Sporting Clube Olhanense, Manuel Jorge apresentou a questão nos seguintes termos: Havendo necessidade do desporto se desenvolver e para isso só haver um único meio que é a união de todos os desportistas olhanenses num só clube e vendo as direcções do Ginásio e do Sporting Clube Olhanense que é essa a vontade dos seus sócios, tem esta reunião o fim de saber se ela se fará ou não.
A fusão a fazer-se obedecerá às seguintes condições:
1 Extinguir os nomes de Ginásio e Sporting e arranjar outro nome que seria de Ginásio Sporting Clube Olhanense ou vice-versa ou então Olhão Sport Clube.
2 Entrada em caixa do novo Clube das receitas disponíveis.
(continua)
Bibliografia consultada
Sporting Clube Olhanense de Raminhos Bispo;
História do Sporting Clube Olhanense de Armando Amâncio
Wikipédia
OUTROS ARTIGOS:
> 1.ª PARTE: AS ORIGENS (I)
> 2.ª PARTE: AS ORIGENS (II)
> 3.ª PARTE: AS ORIGENS (III)
> 4.ª PARTE: AS ORIGENS (IV)